Sobre o Ato do Alunos na UERJ Contra o Comandante Geral da UPP

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          O reitor da UERJ declara que abrirá sindicância contra os estudantes que realizaram ato na última segunda-feira contra o comandante geral da UPP, que lá estava para o lançamento de um livro. Os estudantes estão sendo chamados de fascistas por não quererem a polícia na Universidade! Impressionante, que alguns professores da UERJ, os mesmos que se calam quando a polícia mata nas favelas, ficaram revoltados com a manifestação estudantil e também chamaram os estudantes de fascistas. A mídia oficial, a mesma que manipula as informações e só dá espaço e voz para os discursos dominantes, que representam os seus interesses, considerou a manifestação um atentado contra a liberdade de expressão. Ora, o comandante geral da UPP já tem voz demais nesta sociedade, pode falar na TV Globo, pode falar na revista Veja. Agora, aqueles que são silenciados diariamente pela sua política de segurança genocida não podem se colocar dentro da Universidade, nem sequer entram lá. A Universidade faz alinhamento ideológico sim, não poderia não fazer, e a ideologia que defende está bem clara. Não há debate democrático, se as condições dadas não são igualitárias. Ocorre que quando se está em condições desiguais, é fácil reclamar por suposta democracia e direito ao debate. Sendo que o argumento final, nas favelas, é o recurso à força.

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          A liberdade de expressão na nossa sociedade é extremamente restrita e seletiva, varia de acordo com as condições econômicas e o quanto servem aos interesses dominantes, não se pode fingir que isso não existe. Quando, de fato, condições igualitárias são requeridas, a liberdade de expressão é facilmente suspensa e também o direito à manifestação. Liberdade de opinião não é poder, abstratamente, se estabelecer o diálogo, é ter condições concretas para se dialogar de igual para igual, condições materiais, inclusive para se ser ouvido. A liberdade não é um princípio boiando no vazio, a liberdade é um construto social ou não é nada além de uma palavra bonita para se legitimar ações nada louváveis. Basicamente, a polícia mata na favela. Isso, tudo bem, sem problemas, não atenta contra a democracia. Depois, a polícia vai na Universidade e defende isso discursivamente. Daí, quem protesta contra essa defesa “qualificada”, é fascista. Vamos falar do que se trata de fato. Não me venha com esta de que as pessoas podem discordar livremente, as pessoas estão sendo assassinadas, diretamente e indiretamente, as pessoas não podem discordar livremente. O seu ‘poder discordar livremente’ está afundado em privilégios, aliás, os mesmos que me obrigam a não me calar diante de uma situação como esta. Mesmo que já me tenham mostrado o quão relativo é meu ‘livremente’ e o quanto ele pode ser rapidamente suspenso.

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          Se eu soubesse fazer uma charge, juro que desenhava o comandante geral da UPP estourando a cabeça de negros pobres favelados (pois são vários tiros como este que se seguem do seu comando) e dizendo para estudantes universitários que protestam que eles são fascistas porque não querem debater livremente com ele sobre isso na UERJ! Fica a encomenda para algum amigo capacitado. Se não, fica a imagem por conta de criatividade de cada um.